A invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznic

Há livros que a gente pega para ler sem muita expectativa. Um amigo recomenda, ou você encontra na biblioteca de uma escola que trabalha, como foi o meu caso, enfim, você simplesmente decide ler sem esperar muito, apenas por causa das circunstâncias que te levaram até ele
E é exatamente nesse tipo de situação que nos surpreendemos vez ou outra. O que achávamos ser uma leitura bobinha pode se tornar uma leitura marcante e deliciosa, e não há nada mais gostoso do que terminar um livro com aquela sensação maravilhosa de "uau!!".
Foi exatamente isso que aconteceu com A Invenção de Hugo Cabret, em diversos aspectos: edição, ilustrações, histórias, contexto histórico, enfim: um monte de pequenas (e grandes) coisas me fascinaram nesse livro e me deixaram com aquela impressão de "valeu cada página"!

Passado na Paris da década de 30, A Invenção de Hugo Cabret conta a história de um menino que vive escondido por dentro dos relógios de uma estação de trem, pois seu trabalho é manter todos os eles funcionando corretamente sem que ninguém perceba sua existência. A partir desse cenário inicial, muitas questões passam a nos consumir: por que esse menino se encontra nessa situação? Onde estão seus pais? Como ele foi parar nessa estação? 

Filho de um relojoeiro falecido em um incêndio, Hugo sempre se interessou pelas engrenagens e peças que constituem os relógios. A verdadeira revolução na vida do menino acontece quando seu pai, quando vivo, descobre, no sótão de um museu no qual trabalhava, um autômato. Esse objeto, composto de milhares de pequenas engrenagens, tem como principal função fazer desenhos ou escrever pequenos textos e é, basicamente, empregado por mágicos e ilusionistas. Como era de se esperar, o pai de Hugo, relojoeiro de mão cheia, mergulha de cabeça na tarefa de consertar a máquina e alimenta o sonho de o filho de vê-la em funcionamento. 

Porém um acidente acontece, e a vida de Hugo toma um rumo nunca antes imaginado pelo menino: ao esquecer que o relojoeiro permanecia trabalhando no sótão do museu, o segurança o pai de Hugo no local. Nessa mesma noite, um enorme incêndio consome o museu por completo e torna Hugo órfão.

Daí em diante, muita coisa vai acontecer com o menino. Sua vida de antes acaba no momento que seu tio o acorda no dia seguinte e o leva para a estação de trem. Porém um fio ainda o liga ao seu passado: o autômato. Hugo acredita que seu pai havia deixado uma última mensagem programada na máquina, de modo que recuperar e consertar o que restou do antigo autômato passa a ser o objetivo de vida do menino.

Mas se até agora você ainda não está com vontade de viver essa aventura ao lado do menino órfão em busca da última mensagem do seu pai, te dou um bom motivo para embarcar nessa história: o livro é um belíssimo misto de texto e imagem. Ao longo da obra, vamos alternando entre páginas apenas com texto e sequências de páginas compostas de desenhos à lápis. E esse foi um dos pontos que mais me chamaram atenção no livro. O modo como Brian Selznick alterna texto e imagem é muito bem-sucedido. Se o texto se encaminha para um momento de maior ação, somos levados por uma sequência de imagens que descrevem perfeitamente como tudo aconteceu. Em contrapartida, nos momentos que precisamos nos atentar para alguns detalhes, em vez de empregar longas descrições, o narrador nos mostra um desenho detalhado e deixa por nossa conta a tarefa de montar a descrição em função do desenho.
Essa alternância entre imagem e texto é perfeita, de modo que torna o livro relativamente mas fácil de ser lido por uma criança ou adolescente, mesmo tendo mais de 500 páginas. Além disso, nos sentimos progredindo na obra com uma velocidade formidável, o que é sempre um grande estímulo para qualquer leitor. Chegamos ao final do livro com algumas poucas horas de leitura e, de quebra, ainda descobrimos por que todos os desenhos são feitos à lápis. 

Num misto de texto e imagem, o livro pode ser uma ótima forma de apresentar a literatura para crianças e adolescentes. A Invenção de Hugo Cabret é um delicioso infanto-juvenil, repleto de aventura e emoção recomendado para todo mundo, com certeza!


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