Amor & Gelato, de Jenna Evans Welch

|  Por Clara Taveira  |

Eu sou uma leitora/autora muito preocupada com a forma. Muitas vezes, o modo como a história é contada me importa muito mais que a própria história. Sendo bem sincera, Dom Casmurro não tem a história mais sensacional do mundo: é um homem com síndrome de corno, vendo chifre (ops!) em cabeça de cavalo. Mas o modo como Machadão narrou a história de Bentinho é que me pegou, me deixou apaixonada.

Pois bem, a forma me importa, sim, senhores. O tal do “show, don’t tell” muito me agrada, sim, senhores. Valorizo (e muito) livros em que a história pode até ser ok, legal, mas as informações são dispostas de modo brilhante, organizado, agradável, não um saco de detalhes inúteis jogados na sua cara ao longo de 500 e exaustivas páginas.

(Isso é uma indireta para mim, ignorem. Meu primeiro livro, Lena, está sendo reescrito todinho, exatamente por esses motivos. Vamos voltar ao texto.)

Eis que, ao longo de milhares de promoções por causa do período de Bienal, cai no meu colo Amor & Gelato, um livro que tenho namorado desde o lançamento, em julho, se não me engano. Projeto gráfico maravilhoso (eu presto bastante atenção nisso, não desistam de mim), capinha fosca (Intrínseca, se você soubesse o quanto eu te amo... Não faria nada, talvez me bloqueasse nas redes sociais, #AlokStalker), história atraente, enfim. Pacote completo para eu suspirar por ele (o mesmo aconteceu com Vaclav & Lena, só para constar, um de meus livros preferidos no mundo, publicado por... Adivinha quem?).

Comecei a ler imediatamente, mal o carteiro entregou o pacote da Amazon, e, vejam só: a-do-rei!! Não somente por ser um romance no ponto, divertido, emocionante, mas também pela forma como esse romance no ponto, divertido e emocionante foi contado!

Lina é uma adolescente que perdeu a mãe recentemente para um câncer surpreendentemente rápido. A jovem, que antes só tinha preocupações juvenis como festas para ir com a amiga, agora está indo para Florença morar com um homem que nunca viu na vida: seu pai. Sua avó é muito idosa para ficar com ela, e sua mãe pediu à filha que realizasse um último desejo: ir para a casa de seu grande amigo Howard, em um cemitério, num memorial na Itália.

Espera, cemitério?

Sim, cemitério. 

Obviamente Lina, ao contrário da protagonista insuportável de Verão Cruel, tem motivos de sobra para não gostar da ideia. Perdeu praticamente sua família toda, seria afastada de seus amigos, iria para um país de língua totalmente diferente da sua e, cerejinha de chuchu do bolo, ia morar em um cemitério com um desconhecido.

Aí vem o mais bacana da história: a tentativa de se encaixar (ou fugir) de Florença é pincelada com dúvidas, anseios adolescentes, estágios de luto, mas, ao mesmo tempo, com pitadas de diversão, descobertas, momentos em que ela pode (e consegue) sorrir de novo. Por mais que ela não queira ficar lá, Lina tenta, se esforça para seguir em frente, ainda mais quando um antigo diário de sua mãe vai parar em suas mãos e ela descobre que há muito mais do que a avó simplesmente contou quando disse “Howard é seu pai”.

Até o momento em que o diário surge na história, Lina conta ao leitor amostras grátis de informações sobre a mãe. Não há um capítulo destinado a “explicar como a mãe morreu”. Achei sensacional essa narrativa em que há um cadinho de informação a cada pedaço, todas intercaladas com a tentativa da protagonista de se acostumar com sua nova realidade.

Quando o diário aparece, vem a esperança: agora saberemos por que a mãe nunca mencionou o pai dela, ou por que Lina nem ao menos sabia que a mãe já havia morado em Florença – convenhamos, não é o tipo de coisa que a gente esquece de contar. Não imagino minha mãe chegando para mim durante um chá da tarde (quem eu quero enganar? Durante uma vitamina de abacate gigantesca, nós amamos abacate) e falando “Ei, fiota, lembrei agora de uma coisa! Eu já morei na África do Sul, sabia? Inclusive, você foi concebida lá! Me passa o mel? Minha vitamina tá sem açúcar!”

Só que descobrimos muito mais do que as respostas para as perguntas sobre os pais de Lina. Confesso: há um suspense no livro que achei meio novela das oito, sabe? Resolvi a charada no meio da história, mas, de novo: o mais bacana não foi “o que é o suspense”, mas sim “por que o suspense existe”. Forma, lembra? 

Esse suspense é contado todo encaixadinho, de modo que a gente pergunta “mas o que deu na mãe dela para X? E por que o Howard não fez Y?”, quando, de repente, a gente descobre a verdade e... Ela não é tão importante assim. Tanto faz se aconteceu X, mas não aconteceu Y. O mais bacana é como aconteceu. Sendo Team Robin ou Team Tracy, o mais bacana é curtir a história (adoro How I Met Your Mother) e o modo como ela é contada.

Não pensem que estou falando o final, dizendo que ele é triste! Não, jamais, não curto spoiler. Estou só dizendo que, no caso de Amor & Gelato, o mais bacana é viajar com a Lina, se embrenhar pela Itália com seu novo amigo metade americano, metade italiano, Ren, ver a jovem se erguer depois de um baque tão grande e se perguntar se família é somente pai, mãe e filho.

Há um detalhe que não curti muito no livro: achei que a ênfase no romance de Lina com seu paquera, no final, foi desnecessária. Poderia ter sido um final nos moldes de O Sol Também é Uma Estrela (que livro!), e eu juro que Amor & Gelato teria entrado para o meu hall de livros da vida. Esse holofote em algo que não acrescenta muita coisa na história fez com que ele perdesse seu posto ao lado do colega de capa fosca Vaclav & Lena. 

Ainda assim, como foi possível constatar ao longo desse texto, eu achei Amor & Gelato um livro delicioso, refrescante, que quero ler e reler várias vezes, sempre enquanto tomo um sorvete de banana!

(Gelatos onde moro custam um rim, né? Aliás, o que não custa um rim no Rio de Janeiro?)

2 comentários:

  1. Hahahaha eu tô namorando esse livro desde o lançamento tbm. A resenha me deixou bastante curiosa e (graças!) o livro parece ter um bom equilíbrio entre o drama e a diversão. Kadê a Black Friday que não chega nunca??? Kkkkkkkkkkkk

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  2. AAAA SOS. Tava super ansiosa pra esse livro, recebi e já fui lendo, também, mas dei com a cara no asfalto pq não gostei não. :/ O início pra mim foi ótimo, os diários eram a melhor parte do livro, mas não gostei da conclusão, não achei o mistério lá essas coisas e Ren + Lina não colou pra mim. Fiquei tão frustrada pq eu tava esperando amar o livro.
    Voce viu que vai sair o segundo?! Espero ser melhor hahaha (Love & Luck)

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